miércoles, 12 de agosto de 2015

Mensagem da comunidade artística do México

   Cidade do México, 10 de agosto de 2015

À comunidade artística internacional
Hermana mía te encuentro en el viento”
(Irmã, te encontro no vento)

Estamos profundamente chocados, machucados e irritados com a tortura e assassinato de Yesenia, Alejandra, Mile, Nadia e Rubén, em um apartamento na região central da Cidade do Méximo, no último dia 31 de julho de 2015. Este não é um caso isolado e ilustra o agravamento da violência que atravessa o país. A matemática do terror que vivemos coloca todos os dias mais vítimas na casa do milhar: pessoas são assassinadas (aproximadamente 160.000 desde 2007), desaparecem (entre 26.000 e 40.000), são estupradas e abusadas inconsequentemente de todos os modos horríveis. Existe um pacto de impunidade assinado por aqueles que mantêm nosso governo refém de seus interesses. O neoliberalismo chegou a sua forma mais pura de crueldade em uma situação como essa. Os corpos somente valem enquanto bens. O ultraje que sentimos é muito forte e as estratégias para encarar os fatos são ainda desconhecidas.

Uma das vítimas, Nadia Dominique Vera Pérez, era bem conhecida por muitos de nós, ela era nossa colega porque trabalhava como produtora e promotora cultural. Ela produziu o Festival Internacional de Dança Cuatro X Cuatro na cidade de Xalapa, Veracruz, fundamental para a promoção e desenvolvimento da dança mexicana. Entre outras coisas, ela também produziu o Festival de Cinema Oftálmica na mesma cidade e estava organizando recentemente a turnê do músico espanhol Albert Plá.
Como antropóloga, Nadia acreditava veementemente no potencial das artes para a transformação social e agia de acordo para tal. Nadia também praticou uma intensa atividade política relacionada aos interesses dos direitos humanos e à liberdade de expressão, contra as injustiças de um governo opressor e em solidariedade às vítimas, a morte e o desaparecimento de nosso país. Mais de uma vez, Nadia expressou seu medo: ela se sentiu vigiada, marcada. Mais de uma vez, ela foi ameaçada, devido ao seu ativismo político dentro do estado de Veracruz.

Consideramos muito importante difundir o conhecimento de seu trabalho e vida, falar sobre ela, destacar sua identidade, para além de sua fotografia com o corpo machucado. Ao menos trazer seu nome, para pensar e enfatizar a seriedade desses fatos inaceitáveis os quais sentimos nos cercar.
Também foi assassinado Rubén Espinosa. Ele era fotojornalista, especializado em movimentos sociais, mas também em linguagens artísticas. Amigo de Nadia, fotógrafo do Festival Cuatro X Cuatro, foi ameaçado de morte pelo governo de Veracruz.

É de igual importância mencionar Yesenia Quiroz Alfaro, Mile Virginia Martin e Alejandra Olivia Negrete. Infelizmente, embora saibamos muito pouco a respeito deles e por mais que os nomeemos, não devemos esquecer que eles eram seres humanos, vidas valiosas, que tinham amigos, famílias, planos, personalidades e histórias.

Precisamos de sua ajuda e de sua colaboração. Precisamos do mundo inteiro para falar sobre isso, porque é algo que não pode continuar acontecendo. Nós moramos em um México em que mais de 90% dos crimes não são punidos, em que o estado de violência é exercitado de um modo cínico todos os dias, em que a noção de justiça parece ser inacessível nela mesma. Nosso país está desmoronando, a violência torna-se pior e corremos risco todos os dias. Nadia era um elemento fundamental para a arte no México, para a dança e como membros de uma comunidade internacional que tem a intenção de ser reflexiva, sensível e crítica, acreditamos que estamos nisso juntos. Não importa se a conhecíamos ou não, se tínhamos interesses estéticos semelhantes ou não, se somos mexicanos ou não, um membro de nossa comunidade foi torturada e assassinada em um estado falido. A morte de Nadia interessa à comunidade artística de todo o mundo. Interessa a todos nós. A pressão internacional é um dos poucos mecanismos de proteção eficiente. Convidamos vocês a se pronunciarem conosco e uma vez que muitos de vocês dançam, discursam, escrevem, filmam, se apresentam, pedimos que peguem um momento durante suas apresentações para falar sobre os cinco. Achamos que é importante falar sobre isso em espaços abertos, a fim de direcionar uma troca afetiva.
Para aqueles que se foram, mas também para aqueles que permanecem. Nunca mais . Ni Nadia Ni Nadie. (Nem Nadia, nem ninguém mais).

Membros da comunidade artística mexicana

https://soundcloud.com/somosnadia/somos-nadia
https://vimeo.com/121804006

Video de Nadia Vera sobre Javier Duarte AQUÍ





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